*Por Alexandre Pierro
A transição energética global é inevitável. Mas, a pergunta que fica é: quem irá ditar o ritmo e a direção dessa mudança? O Brasil é uma das nações com maior potencial para liderar essa inovação, com uma das maiores e mais diversificadas matrizes energéticas do planeta capazes de guiar na busca por fontes renováveis e ecologicamente benéficas. Uma expectativa, realmente, promissora, porém que dependerá de uma forte governança por trás para que essas ideias se transformem em geração de valor à sociedade.
Diante de um território tão vasto e rico em energias renováveis, muito tem sido direcionado em pesquisas inovadoras neste campo que consigam encontrar soluções cada vez melhores para esse fim. Em 2023, como exemplo, os investimentos públicos orientados em PD&I no setor de energia no Brasil somaram R$ 5,5 bilhões, segundo dados da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), um crescimento de 36% em relação a 2022.
A maior parte desses recursos vem de programas regulados, como os da ANEEL e da ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis). Todavia, se há tanto investimento assim, por que ainda não temos resultados significativos? Principalmente, pela falta de estratégia e governança ao levar essa teoria à prática, prejudicados, ainda mais, pelo enorme gap entre as descobertas feitas nas universidades nacionais e o conhecimento dessas pelo mercado.
Os riscos dessa falta de orientação são visíveis quanto à falta de aproveitamento de fontes que poderiam ser completamente benéficas. Um dos exemplos mais nítidos engloba a energia nuclear, capaz de prover energia elétrica de forma confiável, ininterrupta e com baixas emissões associadas, ainda mais com o apoio da IA. Porém, ainda há um enorme medo rotulado a este termo após os famosos acidentes de Chernobyl e Fukushima.
Outra fonte também má explorada é a eólica. Em 2024, dados da Associação Brasileira de Energia Eólica (ABEEólica) mostraram que o número de instalações de novas usinas no país caiu mais de 30% em relação à quantidade registrada em 2023. Por mais que seja uma fonte constante em termos de geração, ainda há formas positivas de utilizá-la. A Alemanha, como exemplo, direciona essa matriz à sua rede hidroelétrica, em um sistema que funciona como “bateria de água”, usando a energia excedente das turbinas para bombear água para um reservatório elevado ou estrutura apropriada, para depois liberar quando houver queda de geração eólica – impulsionando, assim, a eficiência.
Esses são apenas alguns exemplos do que poderíamos dedicar esforços por aqui. Mas, o que acabamos vendo, ao invés, é uma insistência em estratégias que não tendem a ser completamente benéficas. Perfurações anunciadas, recentemente, na Margem Equatorial, devido ao potencial petrolífero da região, vêm gerando debates intensos e resistência quanto à limitação deste recurso em nosso meio ambiente, além de argumentos que destacaram que os recursos obtidos com a exploração do petróleo poderiam financiar a transição energética do país para fontes mais limpas.
Há várias formas de olharmos para nossa matriz energética e buscarmos por novas maneiras inovadoras e sustentáveis que preservem nosso ecossistema e, ao mesmo tempo, garantam o fornecimento elétrico à sociedade. O que falta para colocar isso em prática é, justamente, a governança, nos inspirando em tudo que é feito internacionalmente nesse sentido e adaptando essas boas ideias à nossa realidade.
A própria Aneel disponibiliza uma cartilha orientativa sobre a regulamentação e usos da energia elétrica nacionalmente, o que poderia ser muito bem aproveitado pelas empresas caso quebrassem esse ciclo de insistência em fontes não renováveis, para outras mais limpas e benéficas ao setor elétrico. Falta critérios nas decisões tomadas, assim como um olhar crítico que traga mais inteligência ao determinar quais caminhos seguir.
Uma governança estratégica orienta das empresas a estudarem este mercado, e como investir nas fontes renováveis que sejam, de fato, benéficas para cada necessidade, conduzindo este processo com máxima inteligência e cuidado para que obtenham resultados eficazes sem danos ambientais. Ela quebra paradigmas, analisando o que já deu errado, quais planos podem trazer os objetivos desejados, e como preparar o negócio para trilhar essa trajetória com segurança, mitigando possíveis riscos que possam impactar as operações.
Precisamos olhar este tema sob uma perspectiva diferente, pensando não apenas nos resultados capazes de serem conquistados agora, mas levando em consideração onde desejam chegar à longo prazo, conscientizando os times sobre essa importância. Afinal, o próprio Albert Einstein já dizia: “A insanidade é continuar fazendo a mesma coisa esperando resultados diferentes”.
*Alexandre Pierro é mestre em gestão e engenharia da inovação, engenheiro mecânico, bacharel em física e especialista de gestão da PALAS, consultoria pioneira na implementação da ISO de inovação na América Latina