*Por Paula Mazzola
A ideia de que a única responsabilidade de uma empresa é gerar lucro está superada. Liderar hoje exige mais do que metas financeiras; requer visão de futuro, compromisso com impacto real e disposição para enfrentar dilemas éticos. ESG (Environmental, Social and Governance, ou Ambiental, Social e Governança) não é ornamento de reputação. É, cada vez mais, critério de sobrevivência.Dados recentes mostram que o discurso sobre sustentabilidade já chegou aos conselhos corporativos, mas ainda com pouca profundidade prática.
Segundo a consultoria Legacy³, 76% das empresas brasileiras afirmam adotar práticas ESG, mas apenas 8% realmente as integram ao centro da estratégia. Um levantamento da PwC de 2023 confirma essa distância: 87% dos CEOs reconhecem que o propósito da empresa influencia positivamente a performance, mas apenas 46% disseram conseguir tomar decisões alinhadas a esse propósito de forma consistente. Isso evidencia o que se vê no mercado: muitas organizações utilizam o ESG como retórica, mas continuam operando sob as mesmas lógicas de sempre.
A insistência em tratar o ESG como custo ou adereço de imagem pode parecer uma escolha de curto prazo, mas já compromete resultados financeiros e reputacionais. O relatório Global Risks Report 2024, do Fórum Econômico Mundial, aponta que os riscos ambientais representam cinco das dez principais ameaças para os próximos dez anos, incluindo eventos climáticos extremos e perda de biodiversidade. Empresas que operam alheias a esses riscos estão deliberadamente se expondo a interrupções operacionais, instabilidade regulatória e perda de confiança de investidores e consumidores.
É necessário reconhecer que resultados sustentáveis só existem em ecossistemas saudáveis, com comunidades fortalecidas e relações de confiança com stakeholders. Diversas companhias globais vêm provando que isso é viável e lucrativo. A Unilever, por exemplo, atribui parte de seu crescimento consistente às marcas que adotam compromissos socioambientais claros, as chamadas “marcas sustentáveis”, que em 2022 cresceram 69% mais rápido do que o restante do portfólio, segundo relatório anual da empresa. Essa realidade confirma uma tese fundamental: legado não se constrói com boas intenções, mas com decisões estruturantes que priorizam o impacto positivo.
Críticos podem argumentar que nem todas as empresas têm recursos ou maturidade para implementar uma agenda ESG robusta. Essa é uma meia-verdade. O que falta, na maioria dos casos, não é capital, mas coragem de transformar ambição em prática. As soluções estão disponíveis e são acessíveis: mapear impactos reais, escutar os territórios nos quais se atua, integrar métricas socioambientais à estratégia financeira, reforçar a governança com conselhos diversos e relatórios auditáveis. Adotar uma lógica regenerativa, que reconhece os erros e valoriza o aprendizado contínuo, é essencial para escapar da armadilha da estética ESG.
Negócios que colocam o lucro como meio, e não como fim, constroem vantagem competitiva legítima. O mercado não perdoa inconsistência, e a sociedade tampouco. Em um ambiente onde a vigilância social é constante e o capital está cada vez mais exigente quanto ao impacto, a liderança que transforma propósito em prática definirá as empresas que permanecerão no jogo e as que desaparecerão da memória.
*Paula Mazzola, CEO e Founder da Astera, é psicopedagoga, escritora e comunicadora com mais de 22 anos de atuação em filantropia e causas socioambientais.








